Euclides da Cunha

Euclides da Cunha (1866-1909) foi um escritor, jornalista e professor brasileiro, autor da obra “Os Sertões”. Foi enviado como correspondente ao Sertão da Bahia, pelo jornal O Estado de São Paulo, para cobrir a guerra no município de Canudos.

Seu livro, “Os Sertões”, representou uma das principais realizações do “Pré-Modernismo”, com uma literatura social voltada para os problemas concretos do país. A obra narra e analisa os acontecimentos da guerra. O autor foi eleito, em 21 de setembro de 1903, para a cadeira n.º 7 da Academia Brasileira de Letras.

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em Cantagalo, Rio de Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1866. Filho de Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e Eudósia Alves Moreira da Cunha, a partir de 3 anos, viveu entre fazendas na Bahia e o Rio de Janeiro, com tios que o criaram depois que ficou órfão de mãe.

Em 1885, com 19 anos, ingressou na Escola Politécnica, mas por falta de recursos transferiu-se para a Escola Militar da Praia Vermelha. Nessa época, escrevia para a revista da escola, “A Família Acadêmica”.

Por afrontar o Ministro da Guerra do Império, foi expulso da Academia. Em 1889 seguiu para São Paulo e publicou no jornal, O Estado de São Paulo, uma série de artigos onde defendia os ideais republicanos.

Proclamada a República, Euclides da Cunha voltou para o Rio de Janeiro e retornou ao Exército. Na Escola Superior de Guerra, fez os cursos de artilharia, de engenharia militar e bacharelou-se em Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Nesse período, casou-se com Ana Sólon Ribeiro. Foi promovido a primeiro tenente e passou a lecionar na Escola Militar. Em 1893, Euclides da Cunha foi para São Paulo trabalhar na administração da Estrada de Ferro Central do Brasil. Foi chamado para servir à Diretoria de Obras Militares na época da Revolta da Armada, que pretendia derrubar o governo de Floriano Peixoto. Mesmo leal a Floriano, criticou o governo na Gazeta de Notícias. Foi contra os maus tratos aos presos políticos e contra a pena de morte.

Euclides da Cunha foi mandado para a cidade de Campanha, em Minas Gerais, quando foi encarregado de construir um quartel. Desiludido, desligou-se do Exército e dedicou a maior parte do seu tempo ao estudo dos problemas brasileiros. Nomeado Superintendente de Obras Públicas de São Paulo, em 1896, Euclides da Cunha foi trabalhar em São Carlos do Pinhal.

O Pré-Modernismo
Nas primeiras décadas do século XX o Brasil passou por várias transformações na vida política, social e cultural. Nesse período a literatura brasileira atravessou um cruzamento de ideias e formas literárias, que foi chamado de Pré-Modernista.

Embora os autores pré-modernistas ainda estivessem presos aos modelos do romance realista-naturalista e da poesia simbolista, algumas novidades essenciais foram observadas em suas obras: o interesse pela realidade brasileira e a busca de uma linguagem mais simples e coloquial.

Na prosa, se destacaram: Euclides da Cunha, Graça Aranha, Lima Barreto e Monteiro Lobato, que se posicionaram diante dos problemas sociais e culturais do país, criticando o Brasil arcaico e negando o academicismo dominante.

A guerra de Canudos, ocorrida na Bahia, entre 1896 e 1897, foi um dos conflitos mais violentos da história brasileira, ocasionando a morte de 15 mil pessoas, entre sertanejos e militares.

Canudos era uma fazenda abandonada, no sertão da Bahia, na qual se instalou o fanático religiosos Antônio Maciel, conhecido como Antônio Conselheiro. Em pouco tempo formou-se a cidade de Belo Monte, que chegou a contar com 15 a 20 mil habitantes.

Conselheiro fazia críticas à República, acusando-a de responsável pela condição do povo nordestino. Isolados e alheios a pagamentos de impostos, logo o povoado passou a ter problemas com a Igreja e com as leis, o que originou o conflito.

Em 1902, Euclides da Cunha publicou Os Sertões. Com a obra pretendia não apenas contar o que presenciara no sertão, mas munido das teorias científicas vigentes – determinismo, positivismo e conhecimentos de sociologia e geografia natural e humana, pretendia também compreender e explicar o fenômeno cientificamente. A obra constitui uma narrativa com estilo literário, de fundo histórico (apesar do fato recente) e de rigor científico.

A obra “Os Sertões” divide-se em três partes: a Caatinga, o Sertanejo e a Luta.

Na primeira parte, Euclides da Cunha promove um rigoroso levantamento das condições geográficas do local:

A Caatinga
“Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua.
Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.”
Ao passo que a caatinga o afoga, abrevia-lhe o olhar, agride-o e estonteia-o, enlaça-o na trama espinescente e não o atrai, repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, …“

Na segunda parte, caracteriza o jagunço fixado nas terras, com seus traços antropológicos e sociais, suas desgraças e torturas:

O Sertanejo
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a
plástica impecável, o desempenho, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. Este contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo momento, em todos …”

A terceira parte é a mais importante do livro, onde Euclides da Cunha narra como verdadeiro correspondente de guerra. Apresenta uma luta dramática, quando a carnificina de Canudos impõe a vitória dos homens do litoral:

A Luta
“Decididamente era indispensável que a campanha de Canudos tivesse um objetivo superior à função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a combater, em guerra mais demorada e digna. Toda aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro, se não se aproveitassem os caminhos abertos à artilharia …”

Ao regressar de Canudos, Euclides foi para São José do Rio Pardo em São Paulo, para administrar a construção uma ponte sobre o Rio Pardo. Nesse período, começou a escrever Os Sertões, obra que publicou em 1902 e que o consagraria no panorama cultural brasileiro.

Em 1903, Euclides da Cunha foi aclamado membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e eleito para a Academia Brasileira de Letras. Ao voltar ao Rio de Janeiro, Euclides trabalhou no Itamaraty ao lado do Barão do Rio Branco. Em 1909 prestou concurso para a cadeira de Lógica do Colégio Pedro II, onde lecionou por menos de um mês.

Suspeitando que estivesse sendo traído por sua esposa, Euclides dirigiu-se para a casa do amante (que era oficial do Exército e atirador) e sem êxito tentou alveja-lo, mas foi assassinado com três tiros no coração. (Anos mais tarde, seu filho tenta uma vingança, mas teve o mesmo fim do pai).

Obras de Euclides da Cunha
Os Sertões, 1902
Contrastes e Confrontos, 1906
Peru Versus Bolívia, 1907
Castro Alves e o Seu Tempo, 1908
A Margem da História, 1909

Fonte: ebiografia.com