Bom dia

O que te mantem tão dispersa,
Tão centrada e inquieta
Que não olhas para mim?
O que tanto te incomoda,
Te alerta e te transforma
Que não sobra tempo para mim?

Queria estar na canção que tanto ouves,
No compartimento que nunca coube
Nossos corpos ao mesmo tempo.
Quero estar em ti a todo instante,
Riso frouxo, olhar radiante
Morar em teus pensamentos.

Ah se fosse tudo tão diferente,
Se você me olhasse atentamente
A ponto de me descobrir em ti.
Eu surgiria de trás das sombras,
E o meu amor avançando em ondas
Cairia manso a te cobrir.

Queria tanto falar contigo,
E te mostrar o quanto eu preciso
Fazer parte da tua história.
Mas tenho medo que a música cesse,
Que a solidão, para mim, regresse
E tu me apagues da memória.

Um retrato teu na pós-modernidade

O eu ser feliz
Somente como
As selvagens flores astrais
Podem ser

.
O eu acordada
Com a divinal graça do alvor
Em um novíssimo dia
Ao lado teu
.
Um sorriso ameno
E um abraço eufônico teu
Eu só posso ser feliz
Como as álgidas negras flores
Podem ser
.
O eu acordada
Com o alvor do astro rei
Em um novíssimo dia
Ao lado teu
.
Não! Não sensualize assim
Somente feche as nevoentas cortinas
Não! Não venha me embair
Somente apague
Todas as sibilinas luzes
Dispa-se
De todas as fluídas mentiras
E de todas as infindáveis
Desculpas abstratas
E débeis hipérboles afins
.
O eu-ser feliz
Como as imaculadas flores vagas
Podem o ser
Como um sonho bom
Uma quimera que nasceu
E morre em nanosegundos