Querida

Tu és aquela que num belo dia de sol,
Numa tarde de verão, estavas na praia.
Tão bela que fazias a todos pulsarem os corações.

Teus olhos azuis, teus cabelos castanhos.
Teu corpo moreno, que a todos encantava.
E eu bem feliz, porque era o jovem,
A quem tu amavas.

E agora por que, que tudo acabou?
Se ainda permaneces na minha retina.
Com esses olhos tão lindos,
Essa boca perfeita e esse corpo divino,
Que a todos fascina.

Verbos a declarar

Precisarei voltar ao passado
Desintegrar o compacto
Ensaiar antigos passos
Disfarçar golpes baixos
Completar o inacabado
Convencer-me do contrário

Encaixar no descabido
Desvendar o já sabido
Ao lixo o que está vencido
Encontrar velhos caminhos

Indagar aquela resposta
Transbordar até o copo
Bater a última porta

Pedir perdão perdoar
Um adeus acenar
Esquecer o endereço
Fingir um recomeço
Hoje não posso jantar

Piano perfeito

Harmonias desarmônicas
Um vibrato sintéctico
Que possa me guiar
Uma lembrança boa, benquista
Benfazeja
Em tempos do cólera
Um sentimento caridoso
Em tempos apoplécticos
De desesperos sem fim
***
Harmonias desarmônicas
Um mavioso vibrato ao longe
Lento e enluarado
Que possa me guiar
Em meio a trágica
Inexistência que me lançaram
Em tempos imemoriais
***
Harmonias desarmônicas
Um nevoento vibrato lento
Longo e melancólico
De uma música quase perfeita
Um negro dedilhar imaginário
Em outra dimensão
***
Harmonias desarmônicas
Um vibrato lento
Longo e dorido
Em um prelúdio
Uma dança, graciosa,
Em belo sorriso perolado
Que iluminando
A noite infinda
Que vai mudar o nosso final
***
Harmonias desarmônicas
Um vibrato lento
E longo
Entre álgidas e hialinas plumas
De cristais quebrados